Riscos Energéticos e a Ameaça à Indústria de Processamento de Alimentos: O Papel da Refrigeração Industrial

Riscos Energéticos e a Ameaça à Indústria de Processamento de Alimentos: O Papel da Refrigeração Industrial

A segurança energética é um dos principais pilares da competitividade industrial no Brasil. O Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050) aponta que, apesar da abundância de recursos energéticos no país, os desafios relacionados à confiabilidade do fornecimento, à volatilidade de preços e à crescente demanda projetada até 2050 podem criar riscos de escassez e encarecimento da energia elétrica.

Crescimento da demanda e aumento de custos

O relatório destaca que o consumo de energia da indústria brasileira continuará crescendo, especialmente em segmentos de alto uso energético. Embora existam oportunidades de ganhos de eficiência e diversificação de fontes, a pressão sobre o sistema elétrico poderá resultar em tarifas mais altas, sobretudo em períodos de escassez hídrica ou em situações de maior dependência de fontes termelétricas, mais caras e poluentes.

Essa realidade traz à tona a necessidade de novos mecanismos regulatórios para que o preço da energia reflita o real custo da disponibilidade, o que pode significar maior instabilidade e elevação das contas de eletricidade para os setores produtivos.

Impactos na indústria de alimentos

Entre os segmentos mais vulneráveis, está a indústria de processamento de alimentos, altamente dependente de cadeias de frio. A refrigeração industrial é vital para garantir qualidade, segurança alimentar e preservação de produtos perecíveis. No entanto, trata-se também de um dos sistemas que mais consomem energia dentro de frigoríficos, laticínios, abatedouros e indústrias de bebidas.

Com o risco de escassez e de elevação do custo da energia, as empresas do setor enfrentarão desafios:

Aumento do custo operacional: o consumo contínuo e intensivo de eletricidade em sistemas de amônia ou CO₂ implica que mesmo pequenas variações tarifárias podem impactar fortemente a margem de lucro.

Risco de interrupções na cadeia de frio: oscilações ou falhas no fornecimento podem gerar perdas irreparáveis de produtos, colocando em risco contratos, exportações e a segurança alimentar.

Perda de competitividade internacional: países com energia mais estável e barata terão vantagem sobre o Brasil em exportações de carnes, laticínios e alimentos processados.

Dados relevantes para a realização do cenário futuro

Em 2023, os setores de transporte e indústria representaram 64,8% do consumo total de energia no Brasil, com o setor de alimentos e bebidas registrando aumento de 19,7% no consumo energético Agência Govtnsustentavel.eco.br.

Em junho de 2024, o consumo industrial alcançou 16.345 GWh — um dos maiores da série histórica — com alimentos consumindo 101 GWh, alta de 4,9% em relação a 2023 MegaWhat.

O consumo no setor industrial geral teve aumento de 3% em janeiro de 2025, com destaque para alimentos (+3,9%).

Um estudo da Abrace mostra que, entre 2000 e 2024, o custo unitário da eletricidade para a indústria subiu 1.299%, e o do gás natural, 2.251% — bem acima do IPCA acumulado de 326% no período.

Dados do PNE 2050

Peso da indústria no consumo energético

A atividade industrial responde por cerca de 50% do consumo total de energia no Brasil e aproximadamente 1/5 do PIB nacional.

A expansão da atividade econômica industrial até 2050 será determinante para o aumento da demanda, especialmente em segmentos intensivos em energia.

Crescimento da demanda x necessidade de eficiência

A tendência é de aumento expressivo da demanda, exigindo autoprodução, cogeração e novas fontes renováveis.

Projeção de Crescimento da Demanda

O cenário Desafio da Expansão projeta crescimento médio do consumo de energia de 2,2% ao ano até 2050, chegando a mais que o dobro do consumo final de 2015.

O consumo potencial de energia elétrica pode atingir até 3 vezes o patamar de 2015, com média de 3,5% ao ano, alcançando 240 mil MW médios (≈ 2.100 TWh) em 2050.

No mesmo cenário, a demanda de eletricidade centralizada chega a 172 mil MW médios, cerca de 2,5 vezes o consumo de 2015, representando 70% da necessidade total de energia da economia brasileira.

O consumo per capita também cresce fortemente: até 2050 o uso médio de energia por habitante dobra e o consumo de eletricidade quase triplica em relação a 2015

Risco de Aumento dos Custos

Esse movimento é visto como necessário para atrair investimentos e garantir suprimento, mas representa um risco direto de aumento nos custos operacionais da indústria.

O PNE 2050 alerta que o preço da energia precisa refletir sua escassez real, especialmente em cenários de baixa hidrologia ou pressão de demanda, o que pode gerar encarecimento estrutural da eletricidade.

A necessidade de novos investimentos em geração centralizada e a possível menor contribuição de autoprodução e geração distribuída podem pressionar ainda mais os custos.

Os ganhos de eficiência (estimados em redução de até 17% da demanda em 2050, equivalente a mais de 2,5 usinas de Itaipu).

Conexão com a Refrigeração Industrial

A refrigeração é vital para garantir segurança alimentar, qualidade e integridade dos produtos processados. No entanto:

Intensidade energética: refrigeradores, câmaras frias e sistemas de amônia ou CO₂ exigem energia constante e robusta — tornando-se vulneráveis a fenômenos como aumento tarifário, falta de suprimento ou instabilidade de rede.

Custos operacionais elevados: com aumento expressivo das tarifas elétricas, os custos de refrigeração contribuem fortemente para o custo de produtos como carnes, laticínios e congelados.

Risco de perdas e quebra na cadeia de frio: falhas no sistema podem resultar em compromissos severos com qualidade e legislação, além de gerar perdas financeiras e de reputação.

A refrigeração é um dos maiores consumidores de eletricidade dentro do processamento de alimentos (frigoríficos, abatedouros, laticínios).

O aumento projetado da demanda e o risco de tarifas mais caras impactam diretamente a competitividade do setor de alimentos, tanto no mercado interno quanto nas exportações.

O PNE 2050 reforça a necessidade de eficiência energética e inovação tecnológica para mitigar riscos e evitar que os custos energéticos corroam margens de lucro, desaquecendo a indústria alimentícia.

Oportunidade na Eficiência Energética e Redução da Refrigeração - Caminhos para resiliência no setor de refrigeração

Diante desse cenário, a refrigeração industrial precisa ser encarada como área estratégica dentro da gestão energética. O PNE 2050 aponta alternativas como autoprodução de energia, cogeração e maior uso de fontes renováveis distribuídas, como solar e biomassa, contudo isso gerar um desvio na atividade principal, neste sentido as medidas de eficiência energética ganham papel central:

Equipamentos e dispositivos de recuperação de energia RAG;

Eficiência máxima dos sistemas e equipamentos PEE;

O operador como agente de eficiência e performance, não mais como operador QUALIFICAÇÃO;

Retrofit de sistemas antigos de refrigeração para equipamentos mais modernos e menos intensivos em energia RTA;

Integração de tecnologias de automação e controle para reduzir picos de demanda.

Aproveitamento de calor residual e adoção de sistemas de alta eficiência em compressores e condensadores.

Adoção de melhores tecnologias e padrões como os sugeridos pela Emenda de Kigali podem reduzir emissões em até 60% até 2050, poupando US$ 1 trilhão nas contas de energia e evitando a necessidade de grandes investimentos em geração elétrica Portal EA.

Conclusão

O risco de escassez energética e o provável aumento dos custos da eletricidade não são apenas questões macroeconômicas: eles representam uma ameaça direta à sobrevivência e competitividade da indústria de alimentos brasileira. No coração dessa vulnerabilidade está a refrigeração industrial, indispensável para o setor, mas altamente dependente de energia elétrica.

Investir em estudos, eficiência e inovação tecnológica (LESSENERGY) será crucial para transformar esse risco em oportunidade, garantindo a segurança alimentar, a competitividade global e a sustentabilidade do setor.

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