Eficiência termodinâmica: o parâmetro que o sistema não mede — mas cobra

Eficiência termodinâmica: o parâmetro que o sistema não mede — mas cobra

Em plantas frigoríficas industriais, a manutenção da temperatura de referência pode transmitir uma falsa percepção de estabilidade. Ainda que a variável final de controle esteja dentro dos limites esperados, o sistema pode operar com desequilíbrios internos que comprometem sua eficiência. Situações como queda no rendimento do evaporador, oscilações na pressão de sucção e aumento progressivo do consumo específico de energia são indícios recorrentes dessa condição. Tais manifestações não resultam de falhas mecânicas evidentes, mas sim de desvios acumulados nas propriedades termodinâmicas do fluido refrigerante em relação às condições de projeto.

Esses desvios decorrem, sobretudo, de descompassos entre os estados de entrada e saída dos componentes do ciclo de refrigeração — especialmente nas zonas de mudança de fase, expansão e compressão. Nessas regiões, alterações sutis na entalpia, na entropia ou na qualidade da mistura bifásica podem provocar impacto significativo no desempenho global, sem necessariamente acionar alarmes ou gerar falhas diretas. A interpretação baseada apenas na leitura convencional de temperatura ou pressão não permite detectar esses fenômenos com precisão, exigindo análise mais integrada das variáveis de estado.

Um exemplo representativo ocorre em sistemas de compressão em dois estágios, nos quais o resfriador intermediário opera sob condição ideal de líquido saturado. Caso haja uma alteração no regime térmico do evaporador — como a variação da carga térmica ou perda de controle na válvula de expansão — a entalpia do fluido na alimentação do segundo estágio pode se elevar. Esse aumento compromete o equilíbrio entre os estágios, eleva a relação de compressão, reduz o rendimento volumétrico do compressor e provoca aquecimento da descarga, dificultando o controle da pressão de sucção e interferindo na modulação térmica da planta. 

Diversos sintomas operacionais podem ser relacionados a esse desequilíbrio termodinâmico, mesmo em sistemas que aparentam normalidade. Entre os exemplos mais recorrentes estão:

Retorno bifásico na linha de sucção: provoca instabilidade no ponto de transição de fase, dificultando a leitura correta da carga térmica e comprometendo o desempenho do compressor e do evaporador.

Expansão incompleta ou desregulada: aumenta a entropia do fluido, reduz a eficiência da troca térmica e exige maior esforço de compressão.

Refluxo térmico após degelo prolongado: eleva a pressão de sucção e interfere na modulação do compressor, comprometendo a estabilidade do sistema.

Oscilação no subresfriamento: modifica a qualidade do líquido na linha de alimentação, dificulta o controle do superaquecimento e afeta diretamente a capacidade do evaporador.

Esses fenômenos exigem uma abordagem diagnóstica que vá além dos parâmetros convencionais, incorporando a análise contínua das propriedades termodinâmicas como ferramenta para manter a performance real do sistema.

Fenômeno Operacional

Propriedade Alterada

Efeito no Sistema

Retorno bifásico

Qualidade (x), entalpia

Instabilidade na compressão

Subresfriamento variável

Entalpia, temperatura

Redução da eficiência de expansão

Expansão instável

Entropia

Diminuição da troca térmica

Refluxo de degelo

Pressão de sucção

Aumento do consumo específico

A análise termodinâmica não deve ser vista como um complemento opcional, mas como uma ferramenta indispensável para a operação eficiente de sistemas de refrigeração industrial com amônia. A leitura precisa das variáveis de estado — como entalpia, entropia, temperatura, pressão, volume específico e qualidade da mistura — é essencial para garantir tanto o desempenho energético quanto a confiabilidade do sistema.

Medição → interpretação das propriedades → impacto operacional → decisão técnica.

É importante compreender que a temperatura final, por si só, não define o real estado de funcionamento da instalação. Apenas a análise integrada dessas propriedades, ao longo de todas as etapas do ciclo termodinâmico, permite embasar decisões técnicas corretas, evitar interpretações equivocadas e orientar intervenções realmente eficazes.

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