A Leitura do Ciclo Real como Ferramenta de Gestão Térmica na Refrigeração Industrial com Amônia

A Leitura do Ciclo Real como Ferramenta de Gestão Térmica na Refrigeração Industrial com Amônia

Nos sistemas de refrigeração industrial com amônia, a operação raramente corresponde de forma contínua ao ciclo projetado. O ciclo termodinâmico ideal, representado por diagramas como o p-h, é uma referência teórica baseada em condições estáveis e perfeitamente controladas. 

Na prática, porém, é comum que variações na carga térmica, mudanças na rotina produtiva e  de gradação gradual de componentes alterem esse equilíbrio. A simples troca de turno, com ajustes manuais no setpoint do evaporador, pode iniciar um desvio silencioso que compromete o rendimento energético sem que haja um único alarme disparado.

Essas alterações acumuladas produzem sintomas já conhecidos por quem trabalha na sala de máquinas: aumento súbito no consumo específico de energia, dificuldade de controle da pressão de sucção, tempo prolongado de resfriamento e formação excessiva de gelo nos evaporadores.

Um exemplo recorrente ocorre no resfriamento de carcaças suínas.

Se o produto entra 3 °C mais quente do que o previsto e o tempo de permanência na câmara não é reajustado, o sistema responde com aumento de carga térmica que desequilibra o ciclo real. O evaporador passa a operar em regime sobrecarregado, o superaquecimento se eleva, e o compressor trabalha fora do ponto ideal — sem que isso seja imediatamente percebido como uma distorção do ciclo. 

A análise técnica do ciclo real exige a leitura integrada de variáveis como temperatura de sucção, pressão de descarga, entalpia de entrada e saída nos trocadores, além do comportamento dinâmico do refrigerante.

Por exemplo, quando o subresfriamento no condensador é insuficiente, a amônia chega ao separador com maior proporção de vapor, reduzindo a disponibilidade de líquido subresfriado para os evaporadores. Essa condição compromete o controle de nível, afeta a estabilidade da linha de alimentação e pode causar oscilações no regime inundado. Em dias de forte oscilação climática ou operação da torre de resfriamento em carga reduzida, esse efeito passa despercebido pelos alarmes convencionais, mas impacta diretamente o Coeficiente de Performance (COP) do sistema. 

Sem a análise termodinâmica do ponto real, a tendência é atuar sobre os sintomas — aumentar carga, recalibrar válvulas, ajustar tempos de degelo — sem resolver a causa.

O domínio sobre a leitura do ciclo real transforma essa dinâmica. 

Ao identificar que a variação de 3 °C no produto de entrada requer novo dimensionamento da carga térmica e novo balanço entálpico no evaporador, é possível ajustar o sistema de forma técnica, antes que os sintomas se agravem. 

Logo, a operação passa a ser guiada por dados físicos, com decisões fundamentadas em desvios mensuráveis, e não em tentativas corretivas sucessivas. Esse tipo de leitura permite uma atuação precisa: saber quando a instabilidade da sucção vem da linha de líquido ou quando o superaquecimento é causado por restrição térmica e não por falha na válvula de expansão.

É essa capacidade que consolida a eficiência térmica como resultado direto da gestão operacional.

Saiba mais em: https://lessenergy.com.br/cursos 

Compartilhar